As vozes na escuridão

Eu estava em minha casa, do lado de fora, comecei a ouvir vozes, murmúrios que se transformavam em gritos aterrorizantes. Eles estavam lá fora, pegando um por um. Começaram com os vizinhos, matando-os brutalmente. As ruas se encheram de gritos de pavor e dor. Olhei pela janela, tremendo de medo. O cenário que vi foi de um verdadeiro inferno, com labaredas de fogo subindo aos céus. As ruas estavam cheias de figuras demoníacas, seus corpos cobertos de sombras e suas pernas terminando em cascos de cavalo.

Essas criaturas eram muitas, talvez uma legião inteira. Seus olhos brilhavam com uma luz malévola enquanto se moviam com uma velocidade assustadora. Eu sabia que estavam vindo para mim. Tentei encontrar conforto na oração, acreditando que isso poderia me proteger. Talvez fosse essa a razão pela qual não conseguiam entrar em casa. Mas o medo era paralisante. O som de seus passos, como o trote de cavalos infernais, ecoava nas ruas, cada vez mais próximo.

Os gritos das vítimas eram horríveis. Cada pessoa que caía sob suas garras acrescentava um novo grito ao coro do terror. As criaturas gritam a cada novo sofrimento, seus gritos sombrios e distorcidos reverberando nas paredes da casa. Meu coração batia descontroladamente, e eu mal conseguia respirar. Continuei orando, tentando me esconder, mas os gritos penetravam em minha mente, me deixando à beira do desespero.

De repente, ouvi um estrondo. As criaturas estavam tentando entrar. O som dos cascos de cavalo contra a madeira da porta era ensurdecedor. Corri para o quarto, tentando me esconder no armário, mas sabia que era inútil. Os gritos macabros ficaram mais altas, e o ar começou a cheirar a enxofre. Senti o calor do fogo infernal que se aproximava cada vez mais.

Foi então que vi algo pela janela que me gelou até os ossos. Entre as chamas, uma figura solitária se destacava. Era uma pessoa que eu reconhecia muito bem, mas que não poderia estar ali. Meu reflexo.

A minha réplica sorriu, e percebi que estava olhando para mim mesmo, mas com olhos cheios de malevolência. Com um último suspiro de pavor, a porta se abriu com um estrondo, e as criaturas invadiram o quarto. Seus gritos infernais foram a última coisa que ouvi antes de ser consumida.

Acordei abruptamente, deitado no chão do meu quarto. Estava encharcado de suor e meu coração batia como um tambor. Tudo parecia normal, mas uma sensação de horror persistia. Levantei-me, tentando me convencer de que tudo não passava de um pesadelo. Contudo, ao olhar para o espelho, vi uma marca vermelha em meu pescoço, como se as criaturas tivessem deixado um selo.

O terror real não estava no sonho, mas na descoberta de que aqueles demônios, aquelas criaturas, haviam atravessado para o mundo real.

Saí para a rua, e a cena era de puro caos. A cidade estava em chamas, as criaturas infernais atacando todos que encontravam. O ar estava impregnado com o cheiro de enxofre e carne queimada. As pessoas corriam, gritando por socorro, enquanto eram caçadas sem piedade. Meu coração apertou ao ver conhecidos e vizinhos sendo arrastados para a escuridão, seus gritos ecoando na noite.

Tentei correr, mas não havia para onde ir. As criaturas me avistaram e começaram a se aproximar. Seus gritos distorcidos ressoavam em meus ouvidos, e senti um calafrio percorrer minha espinha. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, fui derrubada no chão.

Enquanto as garras das criaturas me seguravam, tentei me agarrar a qualquer coisa, minhas unhas arranhando desesperadamente o chão. Gritei por ajuda, mas ninguém veio. Minha voz estava rouca de tanto gritar, minhas forças se esvaindo. As marcas das minhas unhas ficaram no chão, olhei para o céu e vi que estava completamente negro, sem estrelas, sem esperança. Com um último suspiro de pavor, fui engolido pela escuridão, sabendo que nunca mais veria a luz do dia. As criaturas haviam vencido, e eu era apenas mais uma alma perdida no inferno.Parte superior do formulário